Muito se fala que jogadores como Pelé e Garrincha não teriam a mesma
facilidade para se destacar no futebol atual, dado o grande equilíbrio
físico. Mas a contrapartida tem em um dos seus argumentos o fato de que
os dois craques desfilavam por gramados péssimos, com uma dificuldade
muito maior de colocar as jogadas em prática. A preocupação com o
cuidado aos campos é algo recente no Brasil, e o país, na busca pelo padrão europeu, ainda está longe do ideal. O ponto importante para a evolução dos pisos esportivos por aqui está no tipo de grama, muito mais resistente ao pisoteio.
Antigamente, predominava nos estádios do país a famosa grama de
jardim, Batatais/São Carlos, que não suporta muito o desgaste e tem uma
recuperação lenta. O castigo imposto por 22 jogadores durante uma hora e
meia de uma partida era tratado com mais dificuldade, sem as técnicas
evoluídas encontradas atualmente, e a grama, aos poucos, morria,
formando grandes partes carecas.
- Era, literalmente, pasto aparado com um elevado grau de ervas
invasoras. Campos duros, esburacados, com base argilosa - lembra Artur
Melo, engenheiro agrônomo responsável pelo gramado do Engenhão, campo
que só não está careca por ter um gramado mais resistente.
- Se a grama do Engenhão fosse a Batatais, estaria careca de trave a trave em função do grande número de jogos - garante.
Entre o final da década de 1980 e o início de 1990, alguns estádios
brasileiros passaram a fazer a troca para uma grama mais evoluída para o
pisoteio, a Esmeralda. Com um verde mais escuro e folhas que se
entrelaçam, o piso ficou mais fofo, formando um 'colchão' que melhorou o
toque de bola consideravelmente. Mas a grama não era do agrado de todos
os profissionais do futebol. Foi o caso do técnico Telê Santana, então
no São Paulo, que pediu urgência na troca do gramado por uma espécie
ainda melhor, desenvolvida nos Estados Unidos.
- O Telê não gostava da Esmeralda. Ele conheceu a Bermuda Tifway em
alguma viagem e pediu a troca, mas não havia esse tipo de grama no
Brasil. Tivemos que importar e, aos poucos, fomos trocando o gramado.
Ele mandava - lembra Daniel Tapia, responsável pelo gramado do Morumbi.
A visão futurista de Telê se confirmou. Atualmente, 14 estádios da
Série A usam a grama que o treinador ajudou a trazer para o Brasil. Telê
chegava antes dos treinamentos para procurar buracos e exigir soluções
imediatas. A preocupação deixou um grande legado para o clube paulista,
que hoje colhe os frutos da ótima estrutura. Um dos exemplos é a
manutenção do campo do Morumbi. Para evitar treinamentos no local, mesmo
aqueles antes dos jogos, o clube faz os cuidados do campo 1 do seu
centro de treinamento exatamente da mesma maneira que são feitas no
estádio. Com isso, o famoso reconhecimento do gramado ‘in loco’ não se
faz necessário.
- Colocamos exatamente a mesma quantidade de adubo, água, enfim, tudo
igual. O campo 1 do CT é exatamente igual ao do Morumbi - garante Daniel
Tapia.
A grama Esmeralda ainda é encontrada em alguns estádios do Brasil, como
a Arena do Jacaré, em Sete Lagoas (MG), mas não suporta o desgaste como
as gramas Bermuda. Um exemplo foi a final da Copa do Brasil do ano
passado, quando Vitória e Santos decidiram o título no então péssimo
gramado do Barradão. Naquela oportunidade, a Esmeralda virou lama diante
das fortes chuvas e da sequência de jogos.
* G1 FUTEBOL | Gramados Brasileiros
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