Dossiê dos Gramados Brasileiros

Gramado do Morumbi, estádio do São Paulo (Foto: Daniel Tapia - Divulgação)Muito se fala que jogadores como Pelé e Garrincha não teriam a mesma facilidade para se destacar no futebol atual, dado o grande equilíbrio físico. Mas a contrapartida tem em um dos seus argumentos o fato de que os dois craques desfilavam por gramados péssimos, com uma dificuldade muito maior de colocar as jogadas em prática. A preocupação com o cuidado aos campos é algo recente no Brasil, e o país, na busca pelo padrão europeu, ainda está longe do ideal. O ponto importante para a evolução dos pisos esportivos por aqui está no tipo de grama, muito mais resistente ao pisoteio.

Antigamente, predominava nos estádios do país a famosa grama de jardim, Batatais/São Carlos, que não suporta muito o desgaste e tem uma recuperação lenta. O castigo imposto por 22 jogadores durante uma hora e meia de uma partida era tratado com mais dificuldade, sem as técnicas evoluídas encontradas atualmente, e a grama, aos poucos, morria, formando grandes partes carecas.

- Era, literalmente, pasto aparado com um elevado grau de ervas invasoras. Campos duros, esburacados, com base argilosa - lembra Artur Melo, engenheiro agrônomo responsável pelo gramado do Engenhão, campo que só não está careca por ter um gramado mais resistente.
- Se a grama do Engenhão fosse a Batatais, estaria careca de trave a trave em função do grande número de jogos - garante.


info tipos de grama (Foto: arte esporte)



Entre o final da década de 1980 e o início de 1990, alguns estádios brasileiros passaram a fazer a troca para uma grama mais evoluída para o pisoteio, a Esmeralda. Com um verde mais escuro e folhas que se entrelaçam, o piso ficou mais fofo, formando um 'colchão' que melhorou o toque de bola consideravelmente. Mas a grama não era do agrado de todos os profissionais do futebol. Foi o caso do técnico Telê Santana, então no São Paulo, que pediu urgência na troca do gramado por uma espécie ainda melhor, desenvolvida nos Estados Unidos.

- O Telê não gostava da Esmeralda. Ele conheceu a Bermuda Tifway em alguma viagem e pediu a troca, mas não havia esse tipo de grama no Brasil. Tivemos que importar e, aos poucos, fomos trocando o gramado. Ele mandava - lembra Daniel Tapia, responsável pelo gramado do Morumbi.

A visão futurista de Telê se confirmou. Atualmente, 14 estádios da Série A usam a grama que o treinador ajudou a trazer para o Brasil. Telê chegava antes dos treinamentos para procurar buracos e exigir soluções imediatas. A preocupação deixou um grande legado para o clube paulista, que hoje colhe os frutos da ótima estrutura. Um dos exemplos é a manutenção do campo do Morumbi. Para evitar treinamentos no local, mesmo aqueles antes dos jogos, o clube faz os cuidados do campo 1 do seu centro de treinamento exatamente da mesma maneira que são feitas no estádio. Com isso, o famoso reconhecimento do gramado ‘in loco’ não se faz necessário.


- Colocamos exatamente a mesma quantidade de adubo, água, enfim, tudo igual. O campo 1 do CT é exatamente igual ao do Morumbi - garante Daniel Tapia.

A grama Esmeralda ainda é encontrada em alguns estádios do Brasil, como a Arena do Jacaré, em Sete Lagoas (MG), mas não suporta o desgaste como as gramas Bermuda. Um exemplo foi a final da Copa do Brasil do ano passado, quando Vitória e Santos decidiram o título no então péssimo gramado do Barradão. Naquela oportunidade, a Esmeralda virou lama diante das fortes chuvas e da sequência de jogos.

mapa gramas 2 (Foto: arte esporte)



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