A década de 80 é chamada de década perdida, pois foi um período de
estagnação econômica – o que travou o crescimento de países como o
Brasil, por exemplo. Mas, certamente, quem diz isso são aqueles que eram
adultos na época, porque aqueles que foram crianças afirmam, categóricos, jamais ter existido uma década tão boa quanto a de 80. A
melhor para ser criança.
Quem nasceu no começo dos anos 80, considerado por muitos uma época
sonolenta, adora falar da infância. Infância que de sonolenta não tem
nada. E como poderia ter? Nada supera os brinquedos nem as brincadeiras
dos anos 80: atari, pogobol, genius, pega-vareta, autoramas. E se não
tivéssemos nenhum desses tesouros em casa, tínhamos sacos de bolinhas de
gude, montes de figurinhas e uma esperteza fenomenal para trapacear no
bafo.
E o que dizer dos filmes? Uma respeitosa obra cinematográfica foi
produzida nessa década. Filmes que faziam nossa imaginação ir ainda mais
longe, para infortúnio dos pais que tinham suas gravatas e cintos
seqüestrados para que fizéssemos as vezes de Rambo ou Indiana Jones.
Matávamos aula em nome de Ferris Bueller, não entendíamos porque David
Bowie queria roubar aquele bebê e acabámos comprando uma caixa de Babe
Ruth para o querido Sloth.
Na televisão, seriados japoneses eram insuperáveis com pipoca. Chaves
e Chapolin jamais serão esquecidos e sempre teremos raiva de Gargamel.
As nossas tardes de sábado eram deliciosamente divididas com os
trapalhões. Tínhamos febre pelos quadrinhos, da Turma da Mônica à X-men.
Os almanaques, as coletâneas de fita-k7, as roupas de aeróbica. os
bambolês.
A década de 80 também foi grande em produção musical. A década das
músicas românticas, dos pop mela-cueca, das músicas bregas. Crescíamos
cantando “Like a Virgin” nas festas de aniversário regadas a
guaraná
Joaninha, bolo salgado e beijo escondido. Os mais velhos levavam as
namoradinhas para dançar lambada, brega que só!
Mas daí chegaram os anos 90 e chegaram meio arrogantes. E vieram para
fazer barulho. E não somente com as guitarras dos grunges, mas fizeram
uma verdadeira batucada com todo o cenário sócio-político-cultural. Como
se depois de uma bela soneca nos anos 80, o mundo tivesse acordado em
verdadeira fúria, bravo por termos errado o passo em “Thriller”.
Então, aos berros, ao longo de toda a década, os anos 90 anunciaram
fatos que mudariam o rumo da nossa História de maneira significativa: o
colapso da União Soviética, a reunificação
das Alemanhas, a
popularização da internet, a tecnologia dos celulares, alimentos
geneticamente modificados, clonagem, o fim do Apartheid, os genocídios
em solo africano, a criação do Mercosul, a guerra do Golfo, entre outros
eventos igualmente barulhentos. Os anos 90 foram o verdadeiro panelaço
das décadas. Depois vieram os 2000, a instalar a cultura do medo nas
civilizações. Mais barulho, mais confusão, mais terror, mais guerras.
Depois disso tudo aí é claro que os anos 80 seriam considerados
insípidos para uns, sonolentos para outros. Podem não ter tido o charme
retro do passado, nem a excitação progressista do futuro. Mas foram
exatamente como o meu primeiro beijo aos quinze anos: meio atrasado,
meio sem jeito, meio sem graça, meio sem jogo, mas completamente
delicioso.
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